sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cadê a Mata que lhes dei?

















[Quadra]
Sonhei que já estava morto
E com Deus fui conversar,
E em uma dessas conversas
Foi Ele assim me perguntar:

[Setilha]
- Meu filho você veio
Do litoral da Bahia?
Lá fiz a Mata Atlântica
Foi logo no sexto dia
Pedi ao homem pra cuidar
Para purificar o ar.
Como fiz com alegria!

[Décima]
Como a Mata está
Eu pergunto a você?
Estou querendo saber.
De tudo que nela há
Dei para conservar
Pros animais ter moradia
E os pássaros na sinfonia
Fazer a orquestração
Pra vocês da região
Viver em plena harmonia.

As árvores como estão
E os frutos com o sabor?
Eu os fiz com muito amor
Pra cair sementes no chão
Para que nesta região
As árvores multiplicasse
Para que purificasse
Todo o ar do ambiente
Fiz também as nascentes
Para que a água jorrasse.

Diz meu filho como estão
Os pássaros que lá deixei
Fiz mais ainda não sei
Se houve conservação.
Dediquei a esta criação
Todo fruto e toda flor
Regados com muito amor
Mandei que a chuva molhasse
Pra que a semente vingasse
E desse fruto com sabor.

A Mata Atlântica eu quis
Fazer em todo o litoral
Alegrar gente e animal
Foi pra isso que eu fiz
Com firmeza na raiz
Para que pudesse agüentar
Macaco, mico, sabiá,
E que todos os moradores
Tivessem muitos sabores
Na hora de alimentar.

Para a mata aumentar
Em toda sua extensão
Coloquei a criação
Pra desse caso cuidar
Estando tudo no lugar
Para que a flor fecundasse
Deixei que a abelha levasse
Os polens para as flores
Junto com os beija-flores
Pra que tudo continuasse.

Diz meu filho como está
Os rios que lá deixei?
Isso tudo eu programei
Para que os viventes da Mata
Tivesse a água farta
Pra lavar e pra beber
Também fiz o rio descer
Cheio de peixes graúdos.
Eu programei tudo
Para o homem feliz viver.

Fiz o bioma na
Para o ciclo prolongar
Pra viver naquele lugar
Deixei a fauna repleta
E a flora por completa
Deixei tudo de montão
Deixei micróbios no chão
Para os dejetos destruir
E para tudo florir
Deixei o adubo no chão.

O que Eu vejo é horrendo!
E no estado da Bahia
Tudo que daqui eu via
Já não mais estou vendo
O que está acontecendo?
Procuro o que plantei
Mas ainda não avistei.
Vejo grande devastação!
Como dói meu coração
Cadê a Mata que lhes dei?

- Meu Pai todo poderoso
Não sei o que responder!
A semente do mal foi nascer
No coração orgulhoso
Do homem ambicioso.
O egoísmo ele encontrou
E a Mata ele devastou.
O que fizeste com alegria
Ele matou por covardia
O que o Senhor plantou!

Acordei de manhã cedo
Contemplei o horizonte
Bem longe estava o monte
Que até fiquei com medo
Fazia parte do enredo
Muitas árvores queimadas
Tudo seco eu avistava.
Então eu fiquei tristonho
E lembrando do sonho
A tristeza me dominava.

Airam Ribeiro

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