Um cunvite eu aceitei
A jardineira peguei
E pra lá eu debandei
Cum a mente a meditá,
A mala intão arrumei
Uma cueca eu comprei
O sabunete tava no mêi
Lá fui eu cunhecê o már.
Na praia de Arcobaça
Nóis fizemo as arruaça
Tumei muitias caxaça
E vi as muié quagi pelada,
Quano eu ia nadá
Eu danava a ingasgá
Das águia sargada do már
Qui pelas garganta passava.
Eu oiava aquele marão
Cum tanta água no xão
Fazeno um zuadão
Quando na areia xegava,
O sór quente daquele dia
Dava ni mim qui ardia
E minha costa intão duia
Qui a pele ficava assada.
Tanta gente meu Deus do céu
Era aquele mundaréu
E eu esse tabaréu
Ficava só oiano o már,
Tanta água in frente a mim
Pensano eu falava ancim:
Lá na roça nem um tiquin
Pruquê num manda elas pra lá!
E as água ia e vinha
Eu oiava as boilinha
Qui cum aquelas água vinha
E ficava na areia a pocá,
Pegava uns buzo qui xegava
Pra u’as muié eu oiava
E outros gole dágua
Bibia quando ia nadá.
Ô água sargada minha gente!
As golada entrava quente
E eu naquele ambiente
Tussia feitio um canção
Vez in quando a cueca dicia
Das força qui as onda fazia
Nunca vi tanta agunia
Qui paricia um furacão.
Quando o sabunete eu passava
Aí é qui intão omentava
Eu veno qui eles cumentava
Porém eu nun sei o quê,
E eu intão curria pro már
Para as ispuma do sabão tirá
E eu de longe ficava a oiá
As gargaiada e os trelelê.
Dia ciguinte nun guentei
Paricia qui num forno intrei
E qui lá eu mermo min fritei
Pois ni min tudo tava assado,
Só nas sombra qui eu axava
E cum uns ventin qui passava
É qui as dô intão miorava
Era quintura pra todo lado!
Dento da cueca as areia
Dexava ali a coiza fêia
A bunda já toda vremêia
Cum o cú ardeno pra daná,
Desse jeitio num aguento
Rezei pra xegá o momento
Já era certo meu intento
De pra minha roça eu vortá.
E a jadinêra partiu
Eu veno o sór qui saiu
Pariceno inté qui min viu
Pidino pra de novo eu vortá,
A resposta dei só na mente
Qui ali naquele már quente
Nunca mais eu ia istá presente
Pra água sargada nun mais tumá.
Airam Ribeiro
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