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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
O sonho dum minino
E o minino sonhô intão
De um dia tê um caminhão
Pra transportá no sertão
Gado pros fazendêro,
Um dia ele astuciô
E daquele sõin qui sonhô
Ele intão se realizô
Pois quiria cê camionêro.
O motô do caminhão
É a força de sua mão,
E axado ali no xão
Uma lata vazia de óio,
É a bulé, qui maravia!
Lá vem ele cum aligria
Ródano sem tê petróio
Ah! e a sua carroceria?
Foi de u’a caixa vazia
Qui seu Zé da mercearia
Cabô de cumê marmelada,
Derna de cedo tava o bixin
Cum aquele seus dois óin
Incostado lá nun cantin
Pra pegá a cáxa jogada.
De uma cabaça quebrada
A idéia foi formada
Quatro rodera furada
Pra num pau cê infiado,
Foi um caminhão parido
Por um minino sabido
Nun tem nada perdido
Prum sõin cê realizado.
Pra guiá o seu possante
Ele amarrô dois barbante
Para servi de um volante
Para curvá o caminhão,
Na sua simplicidade
Ele sente felicidade
O carro pra ele é de verdade
É um boiadêro do sertão.
Bi bi, bi bi, lá vem a criança
Com a buzina da esperança
Ele nun teve a vida mansa
Mas vem dirigino um caminhão,
Um caminhão boiadeiro
Qui leva gado pros fazendêro
Comprado sem dinheiro
Nas ruas do meu sertão.
Raaaamu, raaaamu, sai da frente!
Lá vem um motô quente
Roncano na guéla dun inocente
Transportano u’a boiada,
São reses da bananeira
Que virô u’a brincadêra
Naquelas mãos facêra
Que pur Deus foi abençoada.
Airam Ribeiro
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