quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Retrato dum rio morto

















Vê aquela areia quente
Que o jiguin tá espojado
Ali nos tempo passado
Inda lembro na mente
Passava água corrente
Que xegava com fartura
Era grande a espeçura
No fundo tinha cascudo
Mas cabô aquilo tudo.
Como era uma formosura!

Discia pura e cristalina
A água lá do riaxo
Quando xegava cá em báxo
Trazia peixe lá de riba
Comia todos inxia a tiba
O que o rio oferecia
Tantas vez ele trazia
Junto com a correnteza
A fartura que a natureza
Dava pra nóis todos os dia.

A casinha nas marge
Ao lado do leito vazio
Onde passava aquele rio
Descreve outra image
Com os tempo de estiage
Ela tombém ficô vazia
Findô aquela aligria
Da festança no quintá
Foi cimbora o pessoá
Ao vê que o rio murria.

Quando óio no retrato
Inda da pra percebê
Que a água pra bebê
Vinha do meio do mato
Onde nascia o regato
Imbáxo da capuêra
Correu a vida intêra
Sem cansá nunca parô
Tanta gente nele pescô
Na sombra da ingazêra.

A ingazêra coitiada
Essa foi iguá ao rio
Nun güentô o dizafio
E cum tempo foi tombada
Da árvore não restô nada
Acabô tá quá a água
Que foi levano a mágua
Da quintura que evaporô
Só mermo areia ficô
Nun restô um pingo d'água!

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