quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Min cazei cum a solidão


















Piaba deu um latido
Mas despôs parô de latí.
Era gente cunhicido
A peçoa qui xegava ali
Parô frente à cancela
Qui pensei: o quê qui ela
Tava fazeno pur aqui?

Xegô inté lambê os pé
O rabo já balançava
Cunhecendo a muié
Qui um dia min bandonava
E pulava inrriba dela
Cum quem a preguntá préla
Vortô pra dondi morava?

Eu ispiêi meio calado
E mim alembrei do dia
Qui na istrada dôtro lado
Ela levô minhas aligria
Dexano pra mim as tristeza
Junto com minha pobreza
E sem aquela cumpanhia

Agora ali estava
In frente a véia paióça
Cuma quem qui percurava
Arguma coiza na róça
Intrá, eu num mandei
Pruquê na hora eu alembrei
De sua atitudi tão gróça.

Foi intão qui ela falô
Cumé quitá Bastião!
Vim in busca do véio amô
Qui dexei aqui no grotão
Pur onde eu fui nun axêi
Iguá a ocê nun incrontei
Quem min tiráci da solidão.

O mundo tem muitas porta
Mas todas se fexáro pra mim
Tano nele sem comporta
Ninguém pode vivê ancim
Venho aqui pidí perdão
Te devorvo meu coração
Para você Bastiãozin.

Dei um suspiro prefundo
Cum réiva mas teno dó
Preguntei: intão no mundo
Tu nun axô ôtro mió?
Mutio tarde ocê xegô
Pois Bastião já se cazô
Ele nun vévi mais só.

Lá na cruva da istrada
Eu vi um dia o meu fim
Descambano na xapada
Foi minha fulô de jasmim
Naquele dia intão
Eu cazei cum a solidão
Para nun morrê sozin.

Cum ela eu tô cazado
Custumei cum o sufrimento
Min adivirto cum o roçado
E brinco cum meus pençamento
Axando o meu amô pôco
Cê foi in buscá dôtro cabôco
Disfazeno dum cazamento.

Nun li mando ocê imbóra
Devido minha inducação
Minha alma inda xóra
Nun dianta pidi perdão
O caxorro qui li cunheceu
Foi o único amigo meu.
Mais ancê?... Ancê não!

Minhas porta procê se fexô
Ocê errô de pôzada
Nôtra istrada foi meu amô
Aquela da cruva da xapada
Fui pur ela qui ti vi partino
Nela ocê cuntinua ino
Inté o mundo li da morada.

Airam Ribeiro

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